quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

É possível reverter seu fascínio pelo automóvel?

É preocupante o crescimento acelerado do transporte individual. Este modelo de cidade não satisfaz a sociedade coletivamente. As pessoas moram cada vez mais afastadas dos centros das cidades que se tornaram inabitáveis em face do barulho, da poluição e dos engarrafamentos causados pelos carros e demais veículos. Conclui–se, portanto que as pessoas precisam de carros. Mas o que está em discussão não é somente o trânsito, senão a construção de uma sociedade civilizada e com qualidade de vida.



O ônus das políticas fiscais que incentivaram a produção e a venda de automóveis e motos sem que as cidades tenham condições de receber toda esta frota e assimilar os seus impactos negativos acabam sendo transferidos para toda a sociedade na forma de poluição, congestionamentos e consumo de energia. Os emplacamentos de veículos somaram 5.444.387 unidades em 2010, ante 4.842.736 unidades no ano anterior, numa alta de 12,42%. O bom desempenho da economia brasileira, com taxas de juros atrativas, prazos acessíveis para pagamentos, fluxo abundante de recursos para financiamentos, bem como o maior poder de compra dos consumidores, estimularam as vendas de veículos em 2010. Entre novembro e dezembro, o crescimento do setor foi ainda maior, atingindo 19,02%, passando de 498.233 unidades para 593.013 unidades.






Embora tenha sido reduzida a liquidez e tendo sido inibida eventuais bolhas no volume de crédito no início de dezembro, as recentes medidas do Banco Central – aumento dos depósitos compulsórios e o aperto nas regras de financiamento de carros – poderão reduzir as vendas de veículos ao longo do ano, no entanto, a comercialização no mês de dezembro registrou crescimento expressivo. As medidas do Banco Central ainda não perturbaram o mercado.






Previsão para 2011


O setor automotivo continuará crescendo em 2011, mas em ritmo menor. O novo governo irá segurar a atividade e o setor automotivo, como parte da economia, também irá caminhar em marcha mais lenta. Esta foi afirmação de Tereza Fernandez, diretora da MB Associados, consultoria econômica parceira da Fenabrave. As vendas de automóveis, comerciais leves, caminhões, ônibus e motos devem chegar a 5,5 milhões de unidades, com alta de 5,20%, menos da metade do crescimento de 2010. A festa ficará mais moderada.


E ai?


Considerando essas cifras e tendo como base que os congestionamentos sobem geometricamente em relação ao crescimento da frota, em um quadro já crítico nas principais cidades brasileiras, percebe-se que o modelo de mais carro/mais sistema viário está esgotado, sendo impossível de ser suprido com os recursos do País. O caos que já se verifica atualmente em São Paulo (10 a 15 km/hora no pico) irá piorar significativamente e já está se espalhando pelas demais cidades brasileiras.




Venda de usados cresce 20%


Embaladas pelo recordes no mercado de novos, as vendas de automóveis e comerciais leves usados cresceram 20,34% em 2010, chegando a 8,429 milhões de unidades. Foram negociados 2,5 carros usados para cada unidade nova vendida no Brasil ano passado. Isso porque, muitas vezes, o carro usado é dado como entrada na compra de um novo veículo. Os números foram divulgados pela Fenabrave, entidade que representa as concessionárias de veículos.


Qual a colaboração da indústria


Com o aquecimento global, o trânsito caótico dos centros urbanos e a crescente preocupação ambiental, a indústria automobilística deveria prever lidar nos próximos anos com uma forte onda de rejeição e patrulhamento ideológico aos seus produtos quando inseridos na vida das grandes cidades. A considerar uma recente pesquisa da Ernest & Young, o clube dos produtos considerados “social e ambientalmente incorretos”, que já conta com o cigarro, as bebidas alcoólicas e os armamentos, pode estar ganhando agora um novo e inusitado sócio, o automóvel.


O setor de transportes urbanos tem, infelizmente, atuado de forma muito tímida, para não dizer conservadora, com relação ao seu mercado. Temos um setor que, com raríssimas exceções, parece conformar-se com a perspectiva de um transporte público sempre ruim e os governos municipais e estaduais na maior parte dos casos refratários a um trabalho que envolva o conjunto do setor (rodoviários, empresários, usuários, fabricantes) e ainda muito distantes de um trabalho que escute as demandas e expectativas da população através das pesquisas de opinião e dos serviços de atendimento aos usuários.


Soluções

A expectativa é que no futuro possamos ver em nossas cidades sistemas integrados onde o usuário reduza seu tempo de viagem, sem ser penalizado com acréscimo de tempo de viagem, nos deslocamentos em pequenas distancias e no custo pago por ele para operar o sistema. Outra expectativa é que sejam qualificados os acessos a integração e aos equipamentos de integração entre automóveis, bicicletas e mesmo o pedestre que deve ter uma calçada decente para se locomover com paz e segurança.


Soluções como a inclusão de bicicletas na rede de transporte público, corredores de ônibus, substituição das tecnologias baseadas na matriz energética do combustível fóssil por formas mais limpas de energia são temas em jogo tanto no aspecto ecológico como no âmbito de uma mobilidade sustentável que não obrigue cidadãos a desperdiçarem horas e horas de sua vida.


Na verdade, falta coragem aos políticos para implantar medidas de uma política pública que tire ou diminua os carros Nas ruas e avenidas e preserve o ar, a segurança e a qualidade de vida da população.


Cristina Baddini Lucas - Assessora do MDT

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